11.2.2 - O RADIOAMADORISMO MODERNO
Conforme anteriormente visto, nas primeiras décadas do século 20, o radioamadorismo desenvolveu-se em função da incipiente tecnologia da época utilizando-se de aparelhos de construção caseira. Primeiramente com transmissores por centelhamento. Logo sem seguida, com o advento da válvula, os mesmos empregando-se
Fig. 292 – Ilustração de um conversor para faixas de ondas curtas para adaptação ao receptor.
das inovadoras topologias de circuitos Hartley, Colpitts ou ultraaudion podiam, atingir assim, potências máximas de saída de 25 a 100W para os tipos de antenas então disponíveis como: L invertida, widom ou Zepp.
Assim por volta de 1930 começaram surgir as primeiras inovações tecnológicas tanto para os modos de transmissão em onda contínua, CW, como em fonia. A estabilidade do transmissor foi melhorada reduzindo-se o acoplamento entre o oscilador e a antena. Nesta nova topologia, circuitos amplificadores eram inseridos para isolar o oscilador. Para operação em modo de fonia, a ineficiência dos moduladores classe A foi contornada pelo emprego no estágio de saída de duas válvulas de potência de áudio operando em amplificação classe B.
Por volta de 1933, surgem os primeiros tipos de osciladores controlados por cristal, bem como os transmissores eram agora fornecidos com fontes de alimentação providas com filtragem das placas para todos os estágios com exceção para as faixas de 10 e 5 m.
Paralelamente, com o advento do circuito superheterodino descortina-se uma nova era para os rádios-receptores cuja tecnologia de ponta para época, rapidamente substitui os primitivos congêneres usando dos circuitos: regenerativo, radio freqüência sintonizada e neutrodino.
Fig. 293 Esquemático de um oscilador de freqüência de batimento – BFO.

Na realidade o moderno rádio-receptor de comunicação foi um compromisso entre o desenvolvimento tanto de componentes, dentre os quais principalmente a válvula termiônica como de concepções construtivas que influíram sobremaneira na melhoria da sua seletividade como sensibilidade.
Devido às características do circuito superheterodino muitas experiências foram feitas até se definir a padronização da atual freqüência intermediária de 455 kHz.
Entretanto, a adaptação do circuito superheterodino ao rádio-receptor de comunicação foi feita gradativamente devido ao custo envolvido. Primeiramente os fabricantes lançaram no mercado o conversor que era adaptado a um simples rádio. Este tipo de aparelho usava válvulas do tipo screen-grid tanto para o oscilador local como o primeiro detector e bobinas de inserção.
A desvantagem do conversor era que o seu desempenho estava diretamente ligado à seletividade da freqüência intermediaria do receptor. Fig. 292
Para a recepção de sinais em onda contínua, era necessário que o receptor superheterodino fosse provido com um oscilador de batimento adicional, também conhecido com oscilador de freqüência de batimento, b.f.o (
Fig. 294 - Ilustração de um dos primeiros tipos de rádiorreceptores de comunicação feito em caráter industrial na década de 1930. Receptor de comunicação modelo HRO 5, fabricado nos EUA pela National Company.
beat frequency oscillator) de maneira a produzir um sinal audível. Fig. 293
Nos anos trinta é concentrado grandes esforços no desenvolvimento de receptores de comunicação tipo superheterodino, dando-se ênfase ao conceito de uma a boa seletividade no segundo estágio detector o que configurava uma avançada topologia dos circuitos de radio freqüência e de freqüência intermediária.
Como visto, para a recepção de sinais em onda contínua necessitava-se de um oscilador de batimento o que produzia faixas laterais em ambos os lados da portadora. Este fenômeno, exaustivamente estudado por Lamb resultou no aparecimento do rádio-receptor superheterodino para recepção de sinais únicos em onda contínua, provido agora com um filtro a cristal no seu estágio de freqüência intermediária. Assim, por meio deste circuito podia sintonizar-se apenas a faixa lateral desejada de forma que o sinal tornava-se efetivamente como faixa lateral única no segundo estágio detector do receptor.
Fig. 295 - Válvula 2 A7- uma das primeiras válvulas conversora pentagrade.

Como a seletividade do receptor continuava sendo o grande objetivo dos projetistas logo surgiram os aparelhos providos com detectores lineares , controle automático de volume e com gama de cobertura ampliada até 30 MHz, devido ao grande interesse para operação na faixa de 10 m. Com isto o receptor tornou-se mais suscetível a rejeição de imagem o que foi contornado pela inserção no circuito, logo após o estágio de conversão, de vários estágios de radiofreqüência. Fig 294
Um outro fator importante no desenvolvimento do moderno receptor de comunicações, foi o aparecimento no
Fig. 296 - O primeiro tipo de transmissor auto-sintonizado tipo ART-13, de fabricação Collins Radio – EUA.
mercado das modernas válvulas conversoras pentagrade, como por exemplo, o tipo 2 A7.Esta válvula, atuando simultaneamente como, osciladora e detectora, foi rapidamente empregada respectivamente no primeiro e segundo estágio detector, bem como oscilador de freqüência de batimento. Fig. 295
No final da década de 1930, a tendência da industrialização do receptor de comunicação já estava consolidada. Assim nesta época, os projetistas dispunham de muitas inovações quer no campo de componentes, como por exemplo, das recém lançadas válvulas metálicas de 6 Volt, do transformador de freqüência intermediária de núcleo metálico, bem como de novos circuitos dentre os quais se tem o filtro corta ruídos de freqüência intermediária, desenvolvido por Lamb em 1936.
Os primitivos tipos de antenas cedem lugar para modernas configurações de dipolos, os quais são agora conectados ao receptor pelo novíssimo tipo de linha de alimentação denominado de cabo coaxial lançado no mercado em 1937.

Fig. 294A - Ilustrações de diversos tipos de receptores de comunicação fabricados após a segunda grande guerra.
Rádiorreceptor de comunicação modelo GR 78, fabricado nos EUA pela Heath Company no início da década de 1970 Fig 294B - Radiorreceptor de comunicação de fabricação norte americana modelo RME 84

Com a eclosão da 2ª guerra mundial em 1939, a atividade radioamadoristica é interrompida. Analogamente ao que ocorrera 20 anos antes, durante o primeiro conflito, a grande maioria dos amadores se alistam nas forças armadas atuando, assim, como operadores e, principalmente como instrutores de rádio.
O esforço de guerra exigido dos países beligerantes impulsionou consideravelmente o avanço das radiocomunicações pela introdução de inúmeros desenvolvimentos tecnológicos.
Assim, pela sua importância para o estado da arte do radioamadorismo como da indústria eletrônica na área de comunicações nos anos subseqüentes a guerra, destacam-se o transmissor auto-sintonizado, o oscilador de sintonia por permeabilidade, (PTO - Permeability Tuned Oscillator) e o filtro mecânico. Fig. 296
Sem dúvida alguma foram inovações conseqüentes da enorme contribuição dos radioamadores para com a Eletrônica, onde se evidencia a figura de Arthur Andrew Collins, fundador da empresa “Collins Radio Company”.
NOMENCLATURA DESCRIÇÃO DAS PARTES
A ENTRADADA OU SAÍDA DO SINAL ELÉTRICO
B SUPORTE DO DISCO EM CADA EXTREMIDADE
C SEÇÃO MECÂNICA RESSONANTE COMPOSTA DE 6 DISCOS
D BARRAS DE ACOPLAMENTO
E IMÃ DE POLARIZAÇÃO
F BOBINA DO TRANSUDTOR
G BARRA DE ACIONAMENTO MAGNETOESTRITIVA
H ENTRADA OU SAÍDA DO SINAL ELÉTRICO
Fig. 297 - Esquemático do filtro mecânico.
O transmissor auto-sintonizado e, o PTO, foram grandes avanços nas comunicações aeronáuticas durante a guerra. Pois atuando em conjunto, permitiam uma combinação de várias freqüências sintonizadas automaticamente que podiam ser mudadas rapidamente pelo rádio operador tornando quase que impossível o seu monitoramento ou interferência pela inteligência eletrônica inimiga.
Fig 297A - Ilustração de um filtro mecânico.

Por outro lado, o filtro mecânico é um dispositivo eletro-mecânico com uma excepcional seletividade, podendo assim separar sinais adjacentes em intervalos de 500 ciclos/segundo. Na realidade, o filtro mecânico funciona pelo principio da magnetostrição. Assim, atua como um transdutor que converte as oscilações da energia elétrica em vibrações mecânicas e vice-versa. Através das pesquisas efetuadas nos laboratórios da Collins Radio Company os engenheiros descobriram que este princípio podia ser usado para aplicações com impulsos elétricos e, em 1952, o Instituto de Engenheiros de Rádio, EUA, (IRE) anuncia oficialmente o lançamento do filtro mecânico.
Em sua concepção básica, consiste de um conjunto de bobinas interligadas com uma série de discos feito em liga de níquel encapsulados num invólucro metálico.
Assim, se um sinal elétrico for aplicado aos terminais da entrada do filtro é convertido em vibrações mecânicas pela bobina em função da magnetostrição. Por sua vez esta vibração mecânica desloca-se através da seção ressonante composta pelos discos de liga de níquel para a bobina de saída que pelo fenômeno magnetostritivo novamente é convertida em sinal elétrico.
Para aumentar a eficiência do acoplamento eletromecânico uma polarização magnética é aplicada por pequenos imãs colocados sobre as bobinas.
A fabricação dos filtros mecânicos era extremamente complexa e inicialmente, criou uma série de problemas para os engenheiros da Collins. Em 1950, com as deficiências iniciais devidamente sanadas, a companhia investiu consideravelmente na construção de uma fábrica especialmente destinada a produção de filtros mecânicos, os quais agora já desenvolvidos para operar em várias freqüências.
O aparecimento do filtro mecânico abriu novos horizontes não somente nas comunicações por microondas, porem, foi o elemento necessário para a revolução conhecida como as transmissões em faixa lateral única.
Fig. 297