2.3.1 - UM CARIOCA POR TRAZ DA EVOLUÇÃO DA VÁLVULA TERMIÔNICA
Arthur Wehnelt inventor do catodo revestido com óxidos
Arthur Rudolph Berthold Wehnelt nasceu no Rio de Janeiro, Brasil, em 4 de abril de 1871. Seu pai Berthold Wehnelt, um engenheiro naval, veio ao Brasil para auxiliar o desenvolvimento da navegação. Arthur Wehnelt voltou cedo para a Alemanha onde estudou física na universidade de Berlim e seguida na universidade de Erlangen quando recebeu seu doutorado permanecendo até 1906 onde publicou o seu famoso trabalho intitulado: "On the emission of negative ions from glowing metal compounds and related-phenomena", sobre a invenção do catodo revestido com óxido. Em 1906 passou a lecionar na universidade de Berlim. Em 1926, torna-se diretor do Instituto de Física.
Wehnelt se dedicou a vários estudos. Dentre eles se destacam: descargas em gases rarefeitos, raios catódicos, raios-X, emissão foto elétrica bem como a termo condutividade de metais.
Em 1903 durante uma experiência sobre a emissão de elétrons em corpos quentes, notou que ao aquecer um fio de platina, repentinamente à medida que os raios catódicos eram projetados de certa pequena seção do mesmo surgia um intenso brilho azul.
A principio concluiu que isto poderia estar ligado a impurezas como óxidos metálicos oriundos do sistema de vácuo usado na rarefação dos tubos experimentais.
Partindo desta histórica experiência, como um arguto e prático pesquisador, Wehnelt usando várias substâncias finalmente concluiu que óxidos de metais alcalinos terrosos eram aqueles que conseguiam emitir maior quantidade de elétrons.
Surge assim um dos mais importantes aperfeiçoamentos da válvula termiônica, o catodo revestido com óxidos de bário, estrôncio e cálcio, um prático e copioso emissor de elétrons, mais conhecido como catodo de Wehnelt, que por mais de 75 anos foi universalmente empregado na fabricação de válvulas.
Arthur Wehnelt faleceu em 15 de fevereiro de 1944 em Berlim, Alemanha. Sua invenção, o catodo de Wehnelt como é conhecido, foi um enorme legado à evolução da termiônica.


CONSIDERAÇÕES SOBRE O DESENVOLVIMENTO DO CATODO

O catodo é uma parte essencial da válvula termiônica, pois fornece os elétrons necessários ao seu funcionamento. Quando lhe é aplicado o calor como forma de energia ocorre a emissão de elétrons. O método de aquecimento do catodo serve para caracterizar as suas duas formas, ou seja, o catodo por aquecimento direto, ou filamento-catodo consistindo de um fio condutor aquecido pela passagem da corrente elétrica; o catodo por aquecimento indireto, isto é, o catodo-calefador, aquecido por radiação ou condução onde o filamento é introduzido num pequeno cilindro metálico cuja superfície externa é revestida por um material adequado para produzir a emissão de elétrons.

Filamento - catodo

Tungstênio trefilado puro ou tântalo.

- Boa estabilidade na emissão de elétrons

- O metal sendo puro evita a contaminação de outras partes da válvula

- Baixa eficiência na emissão de elétrons.

-requer uma aprimorada montagem mecânica por trabalhar em temperaturas elevadas, acima de 1700ºC, branco-brilhante

- Uma das formas mais antigas de catodo.

- Por requere drenagem mínima de corrente são usados em válvulas alimentadas por baterias.
(Fig 1)

Filamento - catodo

Tungstênio-toriado

- eficiência na emissão de elétrons entre aquela do catodo de tungstênio puro e com camada. menor temperatura de aquecimento 1700ºC - amarelo vivo.

- relativo nível de contaminação  uma vez que em certas condições o tório pode ativar outras partes da válvula, como a grade.

- a emissão dos elétrons depende da conformação da camada de tório.

- o fio metálico de tungstênio é submetido a um tratamento especial,  com  de óxido de tório, o qual é então, reduzido a tório puro, formando uma camada mono molecular na superfície do metal base.
(Fig. 2)

Catodo filamento revestido

Níquel puro ou liga de níquel

- menor temperatura de aquecimento entre 700 - 750ºC - vermelho tênue.

- Maior eficiência na emissão de elétrons  no vácuo podendo atingir 100 mA/W

- tende a gerar grande quantidade de gás.

- Pode gerar contaminação de outras partes da válvula.

- No catodo por aquecimento indireto é formado por um cilindro revestido com óxidos de terras raras, em cujo interior existe um filamento de tungstênio ou liga de tungstênio-molibdednio. O cilindro é aquecido por condução e radiação pelo filamento.
(Fig 3)

- Originalmente a platina foi usada como metal base.

- carbonatos de cálcio, bário ou estrôncio são reduzidos durante o processo de rarefação a óxidos e metal puro formando uma espessa camada sobre  o metal base.
(Fig 4)


Fig 1 - Ilustração de um catodo de fase múltipla em tungstênio puro usada na fabricação de válvula de transmissão para operação em alta tensão. Fig 2 - Ilustração de um típico catodo em tungstênio-toriado usado na fabricação de válvulas de transmissão.
Fig. 3 - Ilustração de um catodo aquecido indiretamente. O filamento espiralado é circundado por finas telas recobertas com óxidos; para minimizar as perdas do aquecimento por radiação se emprega um sanduíche de grades de metal. Fig. 4 - Ilustração do catodo com filamentos revestido com óxidos provido com blindagem a qual permite aumentar a eficiência de emissão.

Fig. 5 - A primeira válvula fabricada na Alemanha em 1911 usando o catodo recoberto por óxido para operação como um repetidor telefônico foi desenvolvido em conjunto por Robert Von Lieben, Eugene Reisz e Sigmund Strauss, daí originando a sua denominação como repetidor LSR. Logo em seguida as empresas AEG, Siemens e Halske, Felton & Guilleaume Carlswerk, A. G. e a Telefunken criaram um laboratório para a fabricação da válvula, conhecida como o “Lieben Konsortium”. Na ilustração à esquerda: o repetidor LSR e a direita o contrato onde foi estabelecido o referido consórcio.
Cortesia da "Siemens Corporate Archives, Munich".